domingo, 23 de outubro de 2011

Aprendendo...


O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

(Manoel de Barros)



Tenho tentado aprender a não desperdiçar tanto as coisas (internas e externas), mas se não consigo ainda colocar isso em prática em um determinado momento, tenho tentado aproveitar  os desperdícios, seguindo o exemplo do Manoel de Barros... e tentado absorver tudo de cada coisa... sem ficar rotulando-a de importante ou desimportante, porque, no fundo, tudo tem um porquê, um valor, se não Deus não teria inventado...

3 comentários:

  1. Que poema lindo! Este eu não conhecia! Perfeito!

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  2. Reproduzo as palavras de Clecia!
    Gostei!

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  3. "Uso a palavra para compor meu silêncio" PERFEITO!! Essa frase foi criada para mim!!
    Manuel de Barros tem criações maravilhosas!!

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Obrigada por me ajudar nas renovAÇÔES!